A Batalha de Tuiuti
BATALHA DE TUIUTI
Antecedentes
Após permanecer 18 dias em Estero Bellaco, por problemas de mobilidade, cavalos e animais de tração, no dia 20 de maio de 1866, após receber café da manhã, a tropa seguiu, pela estrada que ligava Passo da Pátria à Humaitá, para acampar em Tuiuti. A tropa de Flores ficou na Vanguarda, com reforço do Regimento San Martín, argentino, e da 6ª DI. Foi necessário um “empurrão” da 6ª DI para forçar a passagem em Passo de Sidra, ao N de Estero Bellaco, onde os paraguaios deixaram uma proteção de retaguarda, tendo o 2º BI tomado a trincheira existente e uma estativa de foguetes.
O terreno em Tuiuti era o menos apropriado para Operações ofensivas, por ser arenoso e estar cercado de terreno inundado, com juncos de mais de 2 metros de altura, que protegiam a ocultação inimiga. Tinha 4km de profundidade por 2,4 km de largura, sem espaço para manobra. À frente havia o esteiro Rojas e à leste região pantanosa. Sem conhecer o terreno e os Passos para o avanço, a posição era um beco sem saída. Tinham diante de si, sem saber, a trincheira Sauce, forte posição defensiva, com 15.809m, 26 promontórios para canhão e 3 mil homens, além das bocas de lobo (fosso com estacas), que barravam o avanço para Humaitá. Durante o dia 23, foram feitos reconhecimentos à direita e à esquerda do dispositivo.
Organização para o Combate
- 6ª DI - Gen Vitorino Carneiro Monteiros
O Dispositivo
A 6ª Divisão Victorino conseguiu fechar a brecha entre as tropas de Flores e o Batalhão de Engenheiros e Regimento de Artilharia de Mallet.
Para ocupar a grande “abertura”, cercada por grande mata, em 22 maio, os aliados estacionaram, com 32.000 homens, no sentido de profundidade, à cavaleiro da estrada. Na frente, a vanguarda ainda a comando de Flores e o 1º Regimento de Artilharia, com 28 bocas de fogo, que ficavam a 1.600m da linha paraguaia de Rojas.
Em 1º escalão, o Exército Argentino no flanco direito e o Brasileiro no centro e esquerda, com duas Divisões mais à retaguarda para profundidade. À esquerda da Artilharia, mais avançado, estava Flores e, um pouco à retaguarda, a 3ª DI, à cavaleiro da estrada Passo da Pátria-Humaitá, apoiando seu flanco esquerdo na Lagoa Pires.
A 6º DI foi disposta na retaguarda do fosso em escalão para a direita em estreita ligação com o 1º Corpo de Exército argentino, com as três brigadas justapostas da direita para a esquerda: 18ª, 12ª, 14ª. As bocas de fogo foram apontadas para o braço norte de Estero Bellaco. A 14ª Bda, em 1º escalão, em reforço a Flores, se posicionou, praticamente, em prolongamento da trincheira de Mallet, com o 2º BI, o 14º V, o 30º V e o 21º V. O 14º V ficou na retaguarda dos 21ºV e 30ºV. O 30º V guarnecia o extremo direito, tendo à sua direita o 21º V.
O 51º V estacionou na extrema direita, em contato com as U argentinas. À sua esquerda se posicionou o 38º V. O 41º V que foi colocado em guarda avançada, na frente e à esquerda.
Na 12ª Bda, um pouco mais à direita do 1º Regimento de Artilharia a Cavalo, o 3º V foi mantido no 1º escalão, tendo à sua esquerda o 2º BI e à direita o 38º V.
No 2º escalão do dispositivo, mais defensivo, logo ao norte de Estero Bellaco, estavam o 1º e 2º Batalhão de Artilharia a Pé, a 1ª DI, de Argolo Ferrão, e a 4ª DI, de Guilherme Xavier de Souza. Um pouco mais ao Sul a barraca de Osório. No sul, a reserva, com a 2ª DC e a Bda Ligeira, protegendo a retaguarda, porém quase toda a pé, com apenas 600 cavalos em mau estado.
Entres os dias 20 e 23 de maio foram realizados reconhecimentos, que denunciaram as vantagens da posição de López além do Estero Rojas e a dificuldade de um ataque, condicionando a permanência dos aliados em Tuiuti.
O Combate
O amanhecer do dia 24 foi ofuscado pela fumaça negra asfixiante dos tiros de canhão, foguetes e bombas incendiárias. Iniciava a maior batalha da América do Sul, que durou 5 horas e meia, envolvendo 24 mil paraguaios. A cavalaria atacante era de 8.500, bem superior às poucas centenas aliadas. No entanto, a superioridade da artilharia aliada era esmagadora, vital para a vitória. O ataque frontal foi realizado com duas colunas com 9.000 homens, comandados por Díaz e Marcó. López empregou, em flanqueamento, 6300 homens de Resquín, pela direita dos aliados e 8700 de Barrios, pela esquerda. O dispositivo foi surpreendido, pois o Potreiro Piris estava desguarnecido de vigias.
A resistência à ação foi paulatina e iniciou com soldados da vanguarda procurando preservar a própria vida, até chegar aos comandantes, que conseguiram organizar a tropa. Boa parte dos soldados eram civis improvisados e viviam, pela primeira vez, uma situação de combate.
A coluna de Díaz veio eixada pela estrada e chocou-se com a tropa de Flores, levando de vencida o piquete avançado e os batalhões orientais, que sequer tiveram tempo de entrar em posição. Repeliu o 41ºV, que foi o primeiro da 6ª DI a ser atacado, tendo sido apanhado longe de sua Bda. Nesse violento e curto episódio, devido ao recuo das guardas avançadas, sob pressão dos temíveis centauros paraguaios, o 41º não conseguiu formar quadrado e recuou para trás de um banhado que havia em sua retaguarda, para proteger a artilharia oriental. Malgrado essa situação, o 41ºV formou a tempo e recolheu-se à linha na melhor ordem, retornando ao grosso da 18ª Bda e sustentando renhido fogo.
Por toda parte, se gritava e lutava de uma maneira terrível e encarniçada, com tenacidade raiando à loucura.
A artilharia estava vigilante e abriu fogo, tomando de flanco o inimigo. A cavalaria paraguaia mudou a direção e chegou na altura das peças e acometeu-as com toda a fúria. As primeiras cargas morreram no fosso. O ataque de Díaz roda para o lado do RA e vão, com audácia e alucinação, morrer em sucessão no fosso. Redemoinham em volta e jogam-se contra o 1º Corpo Argentino.
A esquerda corria sério perigo e Osório reforçou a 3ª DI com várias U da Divisão de Argolo, restabelecendo o equilíbrio. Osório, aos gritos de “viva a nação e o imperador”, fez os batalhões que recuavam avançar e avançou aqueles que trazia consigo. Lançou reservas para reforçar o flanco argentino e sacrificou batalhões inteiros para impedir que os paraguaios penetrassem no flanco, vindos do Potreiro Piris, sob pena de ocuparem Itapuru e cortar uma possível retirada aliada, que poderia ser destruída em posição.
Pouco depois de desencadeada a Batalha, com o impacto dos paraguaios sobre a 3ª DI, que resistia bravamente, Carneiro Monteiro engajou todas as suas brigadas, 12ª , 14ª e 18ª nos flancos esquerdo e direito do 1º Regimento de Artilharia, fortalecendo a ligação com a artilharia oriental.
A 14ª Bda já tinha posicionado no flanco esquerdo o 2º BI e lançou à sua esquerda o 21ºV e o 30ºV, com o 14º V, semi instruído, na retaguarda deles. O 21º V bateu-se com decisão contra a cavalaria e infantaria de Díaz e o 14º V teve oportunidade de experimentar as suas Miné. O 30° V colocou-se em linha, à esquerda da bateria oriental, com a incumbência de protegê-la. Sustentou vivíssimo fogo contra o inimigo, que o assaltou com recurso das 3 armas. Depois, saiu, ainda em linha, em perseguição, apoiado na esquerda por um banhado e na direita por uma linha de atiradores do 8º BI. O comandante do 30° V teve o cavalo abatido durante a perseguição.
o 14º CVP, chegado ultimamente neste acampamento, acha-se em completo atraso de instrução, mas mesmo assim, comandado em comissão pelo Cap Policarpo, concorreu para a vitória, …, pelo que se torna recomendável.
Na ocasião de seu maior entusiasmo pelas cargas, o Comandante da 14ª Bda, ao saber que seu filho havia sido morto, apenas respondeu, continuando na peleja com o mesmo ardor: “morreu defendendo a sua pátria; teve um fim nobre e feliz”.
Osório reforçou a artilharia com duas baterias do 3º Batalhão de Artilharia a Pé, que se posicionaram no centro da infantaria que estava à direita do fosso. Auxiliando a Artilharia, os Batalhões da 6ª DI fuzilavam, com rapidez espantosa, os infantes que se aproximavam em vagas sucessivas.
A 12ª Bda e a 18ª Bda foram engajadas no flanco direito, entre o Regimento Mallet e o 3º Batalhão de Artilharia a Pé, fechando todo o espaço até ligar-se ao flanco esquerdo argentino. Na retaguarda, foi disposto o 38º V, que bateu-se sustentando o fogo. Conseguiram manter, durante todo o combate, a segurança das U de artilharia e a integridade da frente, que adquiriu consistência excepcional e nada pode rompê-la. O 16º, mesmo desfalcado, se portou com muito. O 51ºV sustentou vivo fogo de 5 horas contra a cavalaria que procurava cortar o flanco esquerdo do Rgt Art, que recuou por diversas vezes em debandada. O Comandante do 3º V foi morto em combate. Após o inimigo ser repelido, o 14°V e o 30ºV saíram em perseguição.
As baixas foram as seguintes:
- 5º BI.
- 7º BI.
- 3º V teve 24 mortos e 23 feridos, inclusive seu Cmt; o Ten Luís Ramos Pereira de Queiroz, que recebeu a Ordem de Cristo.
- 16ª V – 3 feridos.
- 2º BI.
- 14º V - 12 feridos e 1 extraviado e era comandado pelo fiscal, Cap Policarpo (Cmt TC com enxaqueca).
- 21º V - 1 morto e 2 feridos, recebeu como reforço a ala direita do 41ºV, Genuíno Sampaio (ganhou a ordem da Rosa).
- 30º V - 2 mortos 27 feridos; 1º Sgt Avelino Cabral recebeu a Ordem da Rosa. Após o combate recebeu a ala esquerda do 41ºV.
- 38ºV – sem baixas.
- 41ºV 4 mortos e 58 feridos, em Junho o 21º V recebeu a ala direita e o 30ºV recebeu a ala esquerda do 41º CVP, que foi extinto face ao pequeno efetivo a que ficou reduzido.
- 51ºV 4 mortos, 23 feridos e 6 extraviados.
No total foram 13.000 baixas paraguaias e 3.931 aliadas.